Vidas Secas, 1963, 103 minutos.
Dirigido por Nelson Pereira dos Santos e protagonizado por Átila Iório (Fabiano) e Maria Ribeiro (Sinhá Vitória).
Filme da primeira fase do Cinema Novo, integra a chamada trilogia do sertão, junto com Os Fuzis, de Ruy Guerra, e Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.
Adaptado da obra de Graciliano Ramos por Nelson Pereira dos Santos.
Rodado em preto e branco, com iluminação propositalmente saturada, foi totalmente filmado longe dos estúdios, nas cidades alagoanas de Minador do Negrão e Palmeira dos Índios. A polução destas cidades é agradecida nos créditos iniciais do filme. Os planos abertos dão a dimensão da seca que assolava o sertão.
A trama se passa entre os anos 1940 e 1942, quando acompanhamos Fabiano, Sinhá Vitória, seus dois filhos pequenos e a cadela Baleia vagando pelo sertão seco à procura de comida, de um lugar para morar e de trabalho. Encontram uma casa de pau a pique, onde se instalam, com Fabiano trabalhando para o fazendeiro (interpretado por Joffre Soares) dono das terras, como vaqueiro. A miséria do casal é tão grande que o sonho de Vitória é ter uma cama de couro como a do antigo patrão, pois eles dormem em um estrado feito com troncos de árvores, sem colchão. Fabiano não sabe ler, nem escrever, recebe pouco e ainda gasta este pouco em jogatinas de baralho. Quando a seca aperta, sem perspectivas de chuvas, o fazendeiro leva o gado para outras paragens, dispensando os trabalhos de Fabiano. A saga de procurar um novo lugar será encarada novamente pela família, saindo, a pé, em busca de seus sonhos.
É impressionante como o machismo da época em que foi gravado o filme, e mesmo no tempo em que se passa a trama, é retratado na história. Uma cena me marcou bastante neste quesito: Vitória foi buscar água em um riacho que estava quase seco, encheu um recipiente enorme de cerâmica com uma água bem barrenta, e o transportou na cabeça para casa. Ao chegar, Fabiano tem uma discussão com ela sobre a jogatina dele, terminando dizendo que ele trabalha para ganhar o dinheiro e ela não. E o que a mulher mais faz é trabalhar na casa, cuidando dos filhos, fazendo comida, buscando água, cuidando das contas. Outra cena que demonstra como vivia a sociedade naquele interior do Brasil é quando mostra o contraste entre os frequentadores do bar, todos homens, e na igreja, mulheres rezando, enquanto os homens ficavam na porta de entrada. Marca bem os limites de cada gênero na sociedade. Antes que alguém pense, esta é uma constatação, mas de forma alguma estou cancelando a obra. O filme é importantíssimo para a cinematografia brasileira. Eu gosto muito deste filme.
Por fim, deve ser sempre ressaltado a performance da cadela Baleia, um primor, especialmente em uma cena de pura emoção quando seu destino é selado por Fabiano.
Mesmo com iluminação saturada, a fotografia da cena final do filme transmite, ao mesmo tempo, tristeza e beleza.
Revi este filme para a aula do curso sobre Cinema Novo que estou fazendo, on-line, no Cinema com Teoria.
Vi, em 03/02/2022, no Telecine Play.
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