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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

MACUNAÍMA

Macunaíma, 1969, 110 minutos.

Outro filme tema da quarta e última aula sobre Cinema Novo que assisti foi Macunaíma. Na verdade, já o tinha assistido um par de vezes antes. Direção de Joaquim Pedro de Andrade a partir da obra de mesmo nome de Mário de Andrade.

No elenco, Paulo José (mãe de Macunaíma e Macunaíma branco), Grande Otelo (Macunaíma preto e filho de Macunaíma branco), Milton Gonçalves (Jiguê), Rodolfo Arena (Maanape), Dina Sfat (Ci), Joana Fonn (Sofara), Jardel Filho (Venceslau Pietro Pietra), entre outros.

Macunaíma, definido pelo irmão ao nascer como um herói nacional, após a morte da mãe parte de uma tapera onde morava no meio do mato para a cidade grande com Jiguê e Maanape, seus irmãos. No meio do caminho, entra em uma fonte de água e se transforma em homem branco. No centro urbano, conhece Ci, uma guerrilheira que luta contra o regime e por ela se apaixona, vivendo às custas dela, pois não gostava de trabalhar. Ao final, retorna para a mesma tapera onde vivia, mas é abandonado pelos irmãos pois segue mentindo e sem trabalhar. Por fim, tem um encontro com Iara, a mãe das águas.

O filme tem um forte diálogo com o Modernismo, afinal é uma adaptação de uma obra ícone do movimento, assim como com o Tropicalismo, movimento que nascia no final dos anos 1960, início dos 1970.

A afirmação de uma cultura nacional, o uso forte de cores e paisagens que enaltecem o Brasil são uma constante no filme. Mas por estar inserido em um período em que a ditadura militar recrudescia no país, há menções visuais ao período, como policiais patrulhando as ruas da cidade grande e a presença de uma guerrilheira, que lutava contra o regime instalado. Também o discurso em praça pública indica a situação política pela qual passava o Brasil.

A antropofagia lançada pelo Modernismo brasileiro é mostrada no filme em cena surreal do casamento da filha de Venceslau, filmada no Parque Lage (Rio de Janeiro), com uma piscina cheia de sangue e corpos dilacerados, com as tripas para fora, onde, após um sorteio, os convidados eram jogados na água e comidos por um ser que não aparece.

Embora goste do filme, o tom clownesco dos personagens me incomoda um pouco (preciso dizer aqui que tenho um trauma com palhaços), assim como o exagero de atuação em algumas cenas (o choro/grito estridente de Macunaíma quando nasce ou quando é contrariado, ainda criança, é muito chato e irritante). A caracterização de Venceslau Pietro Pietra é exagerada propositalmente, deixando Jardel Filho irreconhecível.

Críticas ao racismo (a transformação de Macunaíma preto em branco quando vai para a cidade), ao conservadorismo de parte da sociedade, justamente a que apoiava o regime militar (discurso na praça interrompido por Macunaíma), à corrupção (Venceslau é um empresário corrupto) estão presentes no roteiro.

A cena final, com uma roupa verde na água sendo invadida pelo sangue vermelho de Macunaíma é uma alegoria fortíssima ao regime militar, que torturava e matava os opositores do regime.

Enfim, um bom filme, um clássico do cinema brasileiro.

Vi, em 23/02/2022, na Globoplay.

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