Dia 07 de janeiro de 2014, terça-feira, último dia de nossa viagem. City tour de oito horas de duração programado para começar às 9 horas, contratado junto à Samsara Africa por U$ 380 (ao final pagamos U$ 420, com gorjeta). A Samsara, localizada em Cape Town, terceiriza o serviço para a Route 66 Escapade Tours, de Joahnnesburg. João Freitas foi nosso guia e motorista durante todo o dia. Ele é português, nascido em Moçambique, naturalizado sul-africano, casado com brasileira. Lutou na guerra da África do Sul contra Angola, ou seja, contra o comunismo. Visitamos vários locais durante o dia, dos quais destaco os seguintes:
01) Liliesleaf - um museu em uma chácara onde Nelson Mandela morava como empregado, enquanto tramava a resistência contra o apartheid. Foi nesta casa onde todos os seus companheiros foram presos, menos ele, que estava viajando e foi preso em uma estrada. A entrada do museu custa R60 (R$ 13), não incluída no nosso city tour. O museu é bem montado, moderno, com muita informação sobre o que se passava dentro daquela chácara na luta contra o racismo. Há muita informação, cujo interesse, acredito eu, é maior para os próprios sul-africanos e para quem estuda a história daquele país. Mas para nós, simples turistas, há fatos e coisas marcantes para se ver, como o quarto onde dormia Mandela, cheio de cartazes e mensagens em homenagem a ele, uma instalação ao ar livre que remete aos volumes do processo judicial contra Mandela e seus companheiros, e a interessante história sobre a adega que existia no local. Tecnologia de ponta é utilizada, o que me lembrou o Museu da Língua Portuguesa. Foi neste museu que perdi a minha pulseira de couro que havia comprado em Cape Town. Gostei da visita, apesar deste contratempo.
02) Bairro Houghton - bairro nobre da cidade onde Nelson Mandela tinha uma mansão, na qual veio a falecer no final de 2013. A casa fica em um terreno enorme, mas mal dá para vê-la, pois seu muro amarelo é alto. Nos canteiros ao longo do passeio que margeia a mansão as pessoas tem depositado flores e mensagens em homenagem a ele.
03) Corte Constitucional - um tribunal totalmente diferente dos que conheço. Foi construído onde era uma antiga prisão de presos políticos, cujas torres ainda estão lá presentes. Com arquitetura arrojada e moderna, alia tradição, como a disposição das colunas lembrando as árvores onde as tribos costumavam se reunir para solucionar conflitos, a austeridade de um tribunal e o mundo moderno. Pelos corredores e saguões há muitas obras de arte de artistas contemporâneos da África do Sul. Não há cobrança de ingresso para entrar. Gostei muito desta visita.
04) Centro - é um contraste ver o Centro, com prédios antigos, e a região de Sandton, onde estávamos hospedados, com imponentes construções modernas, ou com Houghton e suas mansões. O Centro vem sendo recuperado, principalmente com a ajuda das empresas mineradoras de ouro. Tem um comércio agitado e uma rua cheia de esculturas. Apenas Cláudia desceu para tirar fotos. O guia nos levou a um antigo clube inglês, mas eles são tão formais que não nos deixaram entrar, pois os quatros estavam de calça jeans e eu de sapatênis. Não achei ruim, pois estes lugares, invariavelmente, tem um ar de soberba decadente.
04) Melrose Arch - um shopping diferente que alia compras, lazer e moradia. Tem ruas internas pelas quais passa carro. É como se fosse um bairro. Foi onde almoçamos.
05) Museu do Apartheid - pagamos R65 (R$ 14) pelo ingresso individual. Foi o ponto alto do city tour. Conta a história do apartheid de forma direta, mas usando recursos tecnológicos e visuais que não cansam o visitante, muito antes pelo contrário, a gente tem vontade de passar o dia inteiro lá dentro, cujo interior não pode fotografar. Sua arquitetura e sua decoração interna nos dão uma noção do que era o apartheid. Logo na entrada, já sentimos isto, pois há duas portas, uma para brancos e outra para não brancos. Os bilhetes de entrada, impressos de forma aleatória, nos indicam por onde entrar. Eu e Cláudia tínhamos o ingresso para brancos, enquanto Vera recebeu o de não brancos. Claro que cada um pode entrar por onde quiser. Escolhi a porta para não brancos, que começa com um corredor opressor para terminar em um tribunal onde as pessoas podiam recorrer da sua classificação de cor. Um horror bem nazista. Para quem entra pela porta dos brancos, não passa por este tribunal. Mais à frente, a gente se encontra novamente para seguir juntos por todo o museu. Uma ala é toda dedicada a Nelson Mandela, com fotos, objetos pessoais, filmes, documentos e painéis com a linha do tempo. Há, inclusive, a reprodução da cela em que ele ficou preso em Robben Island, do tamanho exato, com a reprodução do barulho do mar que ele ouvia dia e noite e as duas fotos que ele mantinha na parede, uma de Winnie, sua então esposa, e a outra de uma negra nigeriana nua que tinha saído em uma revista Playboy. A outra ala do museu tem um impacto mais forte nas pessoas, com reprodução da câmara das forcas, dos nomes de todos os que morreram na luta contra o racismo. No museu, ainda há duas partes interativas. A primeira você lê várias frase de Mandela em um mural, escolhe a que mais gostou e pega uma haste de madeira na cor em que está escrita a frase, colocando-a em um dos vários recipientes que estão dispostos ao ar livre, formando um interessante mosaico colorido, numa alusão que todo mundo pode viver junto, de forma harmônica e integrada. A outra parte interativa é o fim da visita, onde há uma bandeira da África do Sul e um monte de pedras debaixo dela. Seguindo a orientação do guia, peguei uma pedra em um lado e a joguei no monte, repetindo um gesto dos locais quando passavam por mortos enterrados nos campos, em sinal de respeito e reconhecimento. Visita obrigatória. Fiquei emocionado por mais de uma vez durante meu passeio pelo museu.
06) Soccer City - o estádio palco da abertura e do encerramento da Copa Fifa 2010. Já era final de tarde e ele não estava aberto para visitação. Só o vimos por fora, parando no estacionamento para algumas fotos.
07) Soweto - o bairro onde vivem três milhões de pessoas e onde Mandela morou, cuja casa hoje é um museu. Quando chegamos, já passavam de 18 horas, estando fechada a casa-museu Mandela's House. Nem descemos do carro, mesmo porque achamos o guia tenso em estar ali naquele horário. Ele estava tão nervoso que nem parou na frente da casa onde mora o bispo Desmond Tutu. Só mostrou, depois de passar por ela, onde era. Diminuiu a velocidade em frente à Mandela's House, sem parar o carro, para tirarmos foto. Cláudia até pensou em descer, mas foi desencorajada. Mais acima, ele parou em frente a uma outra casa para contar a história de uma garoto que tinha sido assassinado no bairro. Dali, demos meia volta e voltamos para o hotel. De qualquer forma, foi bom conhecer este famoso bairro, que alguns dizem ser uma favela. Cheguei à conclusão de que este passeio em Soweto é totalmente dispensável.
O dia foi longo, mas bastante proveitoso. De volta ao hotel, arrumei a mala para nosso regresso ao Brasil no dia seguinte. Ainda tínhamos um jantar de despedida da cidade e da África do Sul.
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