Pesquisar este blog

domingo, 26 de janeiro de 2014

FELINDA


E a primeira peça que vi em 2014 foi uma surpresa para mim. Resolvi ir ao teatro no final de semana. Abri o caderno Divirta-se do Correio Brazilense para procurar o que estava em cartaz. Descartei os espetáculos voltados ao público infantil. No Teatro da Caixa Cultural estava Felinda. O nome me chamou a atenção, bem como a pequena sinopse. Sem saber se ainda encontraria ingresso, pois já era sábado à tarde, passei na bilheteria para conferir. Ainda tinham pouquíssimos ingressos para a noite de sábado e para a noite de domingo. Comprei, por R$ 5,00, valor de meia entrada na condição de doador de um livro, qualquer que fosse ele, no dia da peça. Entrada para domingo, 26 de janeiro de 2014, às 19 horas. Cheguei faltando dez minutos para a previsão de início. Hall do teatro lotado. Primeira surpresa: dezenas de crianças. Pensei comigo: "tinha descartado peça infantil e acabei por comprar entrada para uma delas". Teatro completamente lotado. Público heterogêneo, com pessoas idosas, casais novos com crianças que mal andavam, adolescentes, jovens namorados, de todas as matizes, pessoas sozinhas, como eu. O espetáculo começou na hora, sendo a segunda surpresa da noite, pois isto é raro em Brasília. Em cena, a Companhia Carroça de Mamulengos, uma trupe de teatro-circo-brincantes que nasceu em Brasília em 1977 e hoje segue levando alegria e diversão por todo o país. A companhia é formada por uma família numerosa, além de alguns convidados. Felinda era o espetáculo a ser apresentado, co-dirigido pela italiana Alessandra Vannucci e pela própria trupe. A história é simples, mas cheia de beleza. Felinda, nem feia, nem linda, é uma menina que queria seguir com o circo, mas sem talento, é abandonada pelos artistas circenses. Ela perde a memória, esquecendo seu nome, de onde era e com quem vivia. Já idosa, busca, em sua memória muito particular, o mundo do circo, o que é a deixa para os números apresentados pela companhia. Assim, passam diante dos nossos olhos palhaços, mas com uma leveza sensacional, fugindo um pouco do tradicional, mesmo quando usam elementos manjados, como o chorar copiosamente jogando água na plateia. Elementos do imaginário popular, como a lenda da mula sem cabeça, e festas tradicionais do nosso país, como o bumba meu boi, também são apropriados na peculiar história de Felinda. A interação com a plateia é outro ponto alto, pois eles não forçam ninguém a participar. Adultos e crianças foram chamados ao palco e não faltaram voluntários. Ri muito dos dois palhaços, irmãos gêmeos, em número com uma perna de pau. Também me emocionei com Felinda, carregada de dor em sua postura física (lembrem-se de que é uma senhora idosa), cujos olhos estão sempre bem abertos (a atriz usa uma máscara) à espera de seu maior desejo, o de seguir o circo, ser realizado. Enquanto isto não acontece, sua vida é entremeada com o imaginário (as histórias de sua cabeça que são os números circenses) e o real, quando tenta, sem sucesso, aprender algum número para mostrar à trupe circense, quando a encontrasse. História lúdica, que agradou a todos que estavam no teatro, adultos e crianças. Foi a maior surpresa para mim. Gostei muito. Felinda mostrou que a fé é linda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário