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terça-feira, 18 de setembro de 2012

MUSEU DE ARTE E AULA DE CALIGRAFIA

Mr. Right, nosso motorista em Xi'An, voltou do sítio arqueológico onde ficam expostos os soldados de terracota por um outro caminho. No trajeto, o trânsito no fluxo contrário ao nosso era muito lento, lotado de caminhões carregados de mercadorias. Enquanto voltávamos, observei Mr. Right dirigindo. Ele segurava com a mão esquerda, junto com o volante, uma mini-cabaça amarrada em um longo cordão. De vez em quando, ele apertava a cabaça ou a passava em sua testa. Parecia que meditava. Em ambos os pulsos, assim como na maçaneta da marcha, pulseiras de pedras de jade no formato de uma cabeça de Buda sorridente. Eram muitos budinhas rindo ao redor do pulso dele! Snow, a guia, não parava um minuto sequer de falar. Contava mais fatos sobre a história das dinastias que ali imperaram no passado. Segundo nossa programação, a próxima parada seria no Mercado Muçulmano, mas o dia estava muito quente e seco. Snow nos sugeriu ir mais tarde ao mercado, depois das 16:30 horas, quando a temperatura estaria mais agradável e o movimento nas ruas mais intenso. Ela nos deu duas opções: ir para o hotel onde estávamos hospedados para descansar ou conhecer um museu de arte. Escolhemos a segunda opção. Fomos conduzidos para o Museu de Arte TangBo (TangBo Art Museum - 26 South Gong Yuan Road, Xi'An - www.xianartmuseum.com), cuja entrada é gratuita. Lá, fizemos uma visita, conduzidos por uma das guias do museu. O museu foi fundado em 2000, tem um acervo enxuto, mas muito bem conservado e é fácil de percorrer. Possui uma coleção de arte popular Shaanxi, além de pinturas antigas, apresentadas em sequência histórica. Começamos pelo salão da esquerda, onde ficam os quadros de arte popular, podendo ser classificados como pintura naif, representando o cotidiano, usando muita cor e sem nenhuma perspectiva, com todo o cenário ocupando o mesmo plano. Neste mesmo setor, há interessantes quadros com bambus e flores. A guia nos dizia o que significava cada elemento colocado na pintura. Aprendi, por exemplo, que o bambu é símbolo de virtude. Uma pintura me chamou a atenção neste salão. Era uma colagem, com dois bonecos bem coloridos cujas pernas e braços se moviam. A guia nos disse para colocar as mãos nos bonecos, fazendo-os movimentar. Eram utilizados em teatros de marionetes e feitos com peles de animais. Ainda no primeiro salão, a guia parou em frente a uma sequência de esculturas de animais. Eram os doze animais do horóscopo chinês. Ela me perguntou o ano de meu nascimento. Ao responder 1963,  abriu sua mão e, com os dedos da mão direita, fez gestos como se estivesse utilizando uma calculadora na palma da esquerda. Meu signo era o coelho. Rapidamente ela disse algumas das características positivas de quem nasce sob este signo. Responsabilidade, dedicação ao trabalho, minucioso, amante da paz e com alto senso de justiça são algumas das características positivas. Ao terminar de elencá-las, ela usou um "mas" com bastante entonação, completando com alguns pontos sensíveis, como agir por impulso, ser dependente de outra pessoa e extremamente rígido com as pessoas com quem se relaciona. As minhas companheiras de viagem morreram de rir, mas a vez de cada uma chegou logo. C descobriu que seu signo é cabra, D é cavalo, V é boi e S é serpente. Seguimos em frente. O próximo salão é um corredor estreito com peças muito antigas, encontradas em escavações arqueológicas, como vasos de cerâmica e instrumentos de caça e pesca. Os outros dois salões que se seguem tem um lindo acervo de pinturas chinesas, com algumas delas feitas em delicado papel de arroz. A simbologia é bem forte nestes quadros. A maioria delas retrata cenas do cotidiano ou paisagens bucólicas. Terminada a parte expositiva, passamos para uma ampla e iluminada sala, onde uma mesa já estava preparada para nos receber. Teríamos ali uma rápida introdução na arte da caligrafia chinesa, com direito à aula teórica e prática. Na frente de cada um estava uma folha de papel de arroz, um pincel e um pote com tinta preta. A guia utilizou um flip chart, desenhando os oito elementos que formam toda a escrita chinesa. Acabei por notar que eles usam apenas oito "letras" para formar suas palavras, enquanto nosso alfabeto tem 26 letras. A guia começou a conjugar os elementos, formando palavras e frases mais simples, pedindo, em seguida, que tentássemos acompanhá-la, escrevendo a mesma coisa em nossa folha de papel. Molhei demais o pincel, tentando escrever com ele inclinado, como fazemos com a caneta e só saiu uma grande e úmida borra negra. Ela me corrigiu, dizendo a melhor maneira de se pegar o pincel, bem como a posição, totalmente vertical, para escrever. Assim que corrigi a posição de meu pincel, consegui copiar os caracteres que ela ia desenhando. Antes de terminar a nossa rápida aula, ela perguntou se alguém queria aprender a escrever alguma coisa e todos ficaram pedindo os respectivos signos do horóscopo chinês. Ela terminou dizendo como se lia. Até a década de quarenta, os chineses liam da direita para a esquerda e de cima para baixo. Depois, adotaram a mesma posição de leitura ocidental, ou seja, da esquerda para direita e de cima para baixo, como estamos acostumados a fazer. Também disse que os caracteres eram os mesmos para as línguas mais importantes da China, o que mudava era a forma oral de se falar. Assim, um chinês que fala em mandarim consegue ler e escrever qualquer coisa em cantonês ou em shanghaismo, mas não consegue entender o outro quando em uma conversa. Ela pediu para deixarmos nossas escritas secando em cima da mesa. Por fim, na mesma sala de aula, a guia nos apresentou uma série de pinturas de artistas plásticos contemporâneos que gostam de pintar como nos tempos antigos, utilizando da mesma simbologia. A maioria das pinturas era de paisagens ou de animais. As pinturas, em diversos formatos, estavam à venda. Acabei decidindo comprar uma pequena, com bambus e flores vermelhas. Cada pintura tem um carimbo vermelho. Segundo a guia, o carimbo identifica a autenticidade da obra. Paguei RMB 80 (R$ 25,80 ou U$ 12.7) pelo meu quadrinho, que foi enrolado e colocado em uma caixa de papelão, própria para viagem. Quando paguei, fui informado que estava contribuindo com a manutenção daquele museu, pois parte do valor arrecadado com a venda daquelas pinturas é revertido para o Museu de Arte TangBo. C e S também compraram seus quadrinhos. Antes de sair, cada um pode pegar o resultado da aula para levar de recordação. Curti muito este programa que não estava em nosso roteiro.


Fantoches feitos com pele de animal


Coelho, meu signo no horóscopo chinês


Detalhe de pintura


Aula de caligrafia chinesa


Meus primeiros caracteres em chinês



turismo

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