Cruzamos a cidade no sentido norte-sul até chegarmos ao
Templo do Céu. Na verdade, é uma série de edifícios e esplanadas construídos na mesma época da
Cidade Proibida. Fica na região onde viviam os chineses mais simples, repleta de lojas populares, algumas delas com mais de 100 anos de existência. Foi a região da cidade que teve o desenvolvimento mais tardio. Era para este local que os imperadores iam no início do inverno para fazer suas orações e sacrifícios de animais pedindo uma boa colheita. Entramos pelo portão sul do parque que abriga o
Templo do Céu. O parque é muito bem conservado, bem verde, com árvores enormes. É muito frequentado por chineses, especialmente idosos, que ali comparecem todos os dias para jogar cartas. Há uma imensa construção, uma passarela em madeira, toda coberta, onde estes jogadores ficam. Cada grupo traz cadeiras, comida e bebida e passam ali horas a fio. Vê-se gente de todas as idades, mas a predominância é de pessoas mais velhas, já aposentadas. Alguns jogam o xadrez chinês, outros praticam algum instrumento musical (nada convencionais para nós) ou praticam o canto. Vimos um grupo de senhoras cantando. Segundo a guia nos informou, elas cantavam trechos de óperas chinesas. Nos espaços abertos ao redor desta passarela, grupos jogavam a peteca de pés. Caminhando em direção aos prédios do templo, vi um monge com sua vestimenta alaranjada e vermelha. Para entrar no parque é cobrado um ingresso (já incluído em nosso pacote), mas ele só é exigido na entrada da área do templo. O primeiro prédio que vimos é o mais alto, com 36 metros de altura, todo em madeira, sem nenhum prego, construído no ponto em que acreditavam ser o encontro entre o céu e a terra. O edifício é redondo e a esplanada que o envolve é quadrada, pois os antigos chineses acreditavam que estas eram as formas de céu e terra, respectivamente. Após sessões de fotos, descemos em direção a um prédio lateral, onde havia uma pequena exposição de peças antigas. Do lado oposto, dois prédios ficam de frente um para o outro, também abrigando exposições. Completando o quadrado, um portão que dá acesso a uma área arborizada e movimentada de turistas. Paramos em frente a uma árvore de mais de quinhentos anos, existente no local antes mesmo da construção do templo. No mesmo lugar, paramos para tomar um sorvete. Entre os sabores inusitados, coalhada e ervilha. Experimentei o primeiro, com sabor bem próximo da coalhada caseira, pouco adoçado, predominando o sabor mais azedo. V resolveu pegar o de ervilha. Dei uma mordida e não gostei. Parecia água da ervilha batida com leite e açúcar. V jogou o picolé fora assim que viu um lixo. Seguimos nosso passeio, conhecendo a segunda construção, um templo que guardava as tábuas sagradas utilizadas na cerimônia de sacrifício. O que chama atenção do lugar é que ele é circundado pela
Parede do Eco. Assim que ficam sabendo que se cada um ficar em um lugar qualquer do muro, se alguém fala de um lado, o outro escuta, pois o som circula pelo local, os turistas começam a falar para as paredes. Como o eco só funciona quando há pouca gente, ouve-se muita gente gritando. No centro, um caminho de mármore também tem funções semelhantes. No primeiro bloco, bate-se uma palma, ouvindo seu eco uma única vez. No segundo bloco, bate-se a palma e seu eco retorna duas vezes e no terceiro, o eco vem em triplo. Tinha gente tentando, mas ninguém nada conseguia. A guia nos disse que tais funções só funcionavam com pouca gente no espaço, algo impossível em se tratando de
China. Mesmo assim, me posicionei no segundo bloco de mármore e bati uma palma, nada ouvindo em retorno. O dia já caminhava para o fim, quando fomos para a terceira construção, o altar das orações e sacrifícios. A construção não é coberta e tem três esplanadas em três níveis circulares diferentes: o mais baixo para a terra, o do meio para a humanidade e o mais alto para o céu. Bem ao centro do nível mais alto, um pequeno círculo em mármore era o local onde o imperador ficava para suas orações, pedindo ao seu deus por uma boa colheita. Somente ele poderia ficar de pé no local. Hoje os turistas fazem fila para tirar uma foto com os dois pés no círculo. Foi o que fiz. Toda a área do altar é construída tendo como base o número 9 e seus múltiplos, pois eles acreditavam que este número trazia sorte. Aqui paro para uma nota: os chineses mais velhos cospem muito no chão, o que é chato de se ver, pois não é um simples cuspe. Fazem um barulho enorme e escarram com toda vontade. Também não se incomodam muito em fazer suas necessidades, mas para isto há muitos banheiros públicos espalhados por toda a cidade, nem sempre limpos e a maioria com vasos sanitários no chão, pois eles adoram a posição de cócoras. O que vimos na região deste altar circular foi inusitado: uma senhora desceu as calças e fez o número 2 ao ar livre, sem se importar se tinha gente vendo. Pelo menos ela escolheu um local com menos movimento. No nível mais baixo do altar ficam enormes caldeirões onde eram realizados os sacrifícios. Saímos por um portão lateral, onde um passeio reto e bem grande conduzia ao portão leste de saída do parque. Neste passeio, alguns senhores bem idosos ficam praticando a caligrafia, com aqueles caracteres chineses. Eles tem um pincel bem grande, quase do tamanho deles, e um baldinho com água. Molham o pincel na água e vão escrevendo, num exercício de paciência e destreza. Todos os turistas param para tirar fotos, e eles parecem gostar. Não pedem nada em troca. Vê-se a satisfação no rosto deles de fazer aquilo. Saímos do parque cansados de tanto andar no dia. A van já nos aguardava para nos conduzir ao hotel. Cheguei no quarto, vi a cama e deitei. Eram 18 horas. Acordei com C ligando, às 20:30 horas, perguntando se iria sair para jantar. Preferi ficar no quarto, dormindo novamente, só acordando perto de 5 horas da manhã do dia seguinte.
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