Do Aeroporto de Guilin até o estacionamento dos Terraços de Arroz de Longji demoramos cerca de duas horas. A estrada tinha pedaços bem ruins, cheia de buracos e trechos em obras. No percurso descobrimos a aventura de andar de carro por estradas vicinais chinesas, ainda mais com máquinas na pista e parte da rodovia interditada. Os motoristas ultrapassam em locais perigosos e muitos andam na contramão sem nenhuma preocupação. Ainda neste caminho, vimos duas comemorações de casamentos, com carros em fila indiana seguindo o carro dos noivos, devidamente enfeitado com flores e faixas. Quando os noivos chegaram ao local da festa, os chineses queimaram muitos fogos de artifício, mas diferente do que estamos acostumados, a queima não se deu no céu, mas sim no chão, que estava repleto de pétalas de rosas vermelhas. O efeito é bonito. Assim que chegamos no início da subida do morro para ver os terraços de arroz, deu um desânimo, pois a subida é íngreme e há, aparentemente, duas maneiras de subir. A mais utilizada é subir a pé, apreciando a paisagem, que realmente é de tirar o fôlego, ou contratar um bamboo lift. Esta segunda opção consiste de dois chineses, geralmente bem franzinos, carregando uma liteira de bambu, como na época da escravidão no Brasil. Como tudo na China, é necessário negociar o preço, mas geralmente o preço justo é RMB 1 por quilo. Assim, como peso cem quilos, se fosse contratar o serviço, pagaria RMB 100 (R$ 32,40 ou U$ 16). Achei exploratório e constrangedor contratar os chineses para me carregar. Nenhum de nós contratou. Em todo o trajeto, subida e descida, vi apenas um gringo sorrindo sentado na liteira com dois chineses bem mais leves e menores do que ele levando a cadeira morro acima. Ainda há senhoras que se oferecem para carregar bolsas, sacolas e malas (há um hotel no meio do caminho) dentro de cestos de vime que colocam nas costas. Subimos a pé, passando por barracas de artesanato local cujas vendedoras tinham um interessante turbante na cabeça. O guia nos disse que elas não cortavam o cabelo, enrolando-os meticulosamente e guardando-o no turbante. Elas são conhecidas como mulheres yao, por causa da etnia a que pertencem. Para ver o cabelão, basta negociar que elas o retiram, desenrolando tudo e posando para fotos. As minhas amigas negociaram com uma delas quando descíamos, já na volta do passeio. Por RMB 20 (R$ 6,50 ou U$ 3,20), uma mulher yao de 47 anos mostrou seu enorme cabelo. Era bem negro e brilhava, de tanto sebo. Segundo o guia, elas lavam o cabelo nas águas do rio local, deixando-o de molho, antes de lavar, em água de arroz. Uma parte dele estava partida. Era o cabelo cortado quando ela completou 18 anos de idade. Segundo a tradição, elas devem manter a parte cortada enlaçada com o cabelo dentro do turbante.
Voltando para nossa subida, paramos no meio do caminho, onde havia uma pequena vila com casas de madeira sustentadas por palafitas. Era hora de almoçar. Vimos, enquanto subíamos, algumas churrasqueiras portáteis de ferro onde alguns bambus estavam assando na brasa, além de alguns animais devidamente sem pele e vísceras, que ficavam pendurados na haste superior para serem defumados. Perguntamos o que tinha no bambu. Era arroz, obviamente. É um prato típico local chamado arroz de bambu. Resolvemos experimentar durante o nosso almoço. O restaurante era bem simples, com mesas na varanda. Tinha uma bela vista, com os morros e campos verdinhos, mas o calor estava forte, mesmo com o tempo nublado. Sentamos em uma mesa no salão interno, onde estava mais fresco devido aos ventiladores ligados. O restaurante não primava pela limpeza, mas era o que tínhamos e a fome estava gritando. Como sempre, vários pratos foram colocados no centro da mesa para compartilharmos. A Cola Cola foi servida em copos individuais. Estava mais para quente. Bruce pediu que trouxessem dois arroz de bambu para provarmos. O bambu serve de forma para cozinhar uma mistura de arroz com legumes e carnes. A vedação do bambu é feita com sabugo de milho. Milho e pimenta são outros produtos também plantados na região. Vimos muitos grãos e pimentas vermelhas secando ao ar livre. Começamos colocando pouco do arroz no prato, pois não sabíamos se era bom. Mas logo os dois bambus acabaram. Achamos muito bom, com sabor marcante, bem temperado. Com certeza, o melhor que comemos naquele almoço. Quando fui ao banheiro, vi de onde veio nosso arroz de bambu. Por cima da churrasqueira, defumavam uma cobra, um pato e um rato. Todos faltando um pedaço da carne. Ficou em mim a dúvida se dentro do arroz que comemos tinha pedaços da carne daqueles animais. Prefiro não saber. Após o almoço, seguimos nossa caminhada rumo ao topo do morro. Há vários pontos de parada para fotografias. Quanto mais se sobe, mais bonito é o cenário. Bruce disse que na época da colheita todo o morro fica dourado por causa da cor dos pés de arroz. Visitamos a região na época em que os pés ainda estavam pequenos e bem verdinhos. Um bonito espetáculo da natureza moldada pelo homem. Ao ver os recortes no morro, os tais terraços, a impressão é que estávamos vendo um grande corpo de tigre, por causa das listras que os terraços fazem nos morros, lembrando a pele deste felino. Não chegamos ao topo, onde há uma bandeira chinesa tremulando, mas fomos bem perto. Preferimos parar, tirar muitas fotos e voltar. Escolhemos um outro caminho, mas o trajeto da subida era mais bonito. Quase chegando no ponto de partida, uma mulher yao parou S. Quando começamos a subir, S parou para ver alguns cintos em uma barraca e a vendedora insistiu para que ela comprasse um, chegando a colocar um exemplar na sua cintura. S disse que iria pensar. A mulher segurou no dedo de S como se estivesse fazendo um pacto. Na volta, ela cobrou o suposto acordo, mas S não comprou. Precisou de Bruce intervir para que a vendedora deixasse S em paz. V lamentava que não tinha subido o morro na liteira. Ela resolveu pagar para sentar em uma delas, fazendo uma pose para fotografia, eternizando aquele momento. Os chineses cobraram RMB 10 (R$ 3,23 ou U$ 1,60). V se sentou, mas eles não a carregaram. Ela pediu e eles a levantaram fazendo um movimento como se estivessem-na conduzindo morro acima. Foi engraçado. Voltamos para a van. Era hora de enfrentar a estrada novamente até o Guilin Park Hotel (1 Luosi Hill - www.parkhtl.com), onde chegamos no início da noite, quase três horas depois de deixarmos os terraços de arroz. Nossas malas estavam no lobby do hotel. Eu estava muito cansado. Assim que fiz o check in resolvi entrar no quarto e só sair na manhã seguinte. Ficaríamos apenas aquela noite na cidade, mas o meu corpo pedia cama. C e S resolveram jantar, o que fizeram no restaurante do próprio hotel. V e D, também cansadas, pediram um lanche pelo serviço de quarto. Eu nem isto fiz. Tomei um bom banho, fechei todas as cortinas do quarto, apagando as luzes para deixar o ambiente bem escuro. Quando quase dormia, o telefone tocou. Era V para me dizer que o misto era ótimo. Agradeci, desliguei o telefone, coloquei a cabeça no travesseiro. Não me recordo de mais nada, a não ser acordando bem cedo na manhã seguinte.
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