O relógio marcava pouco mais de 16 horas quando chegamos no local onde ocorria o Mercato Mondiale del Tartufo, onde se comercializa a trufa branca de Alba. Ele integra o grande evento anual que toma conta da cidade entre os meses de outubro e novembro de cada ano. Além do comércio de trufas, há muitas outras atividades dentro da programação da feira internacional, cujo nome é Fiera Internazionale del Tartufo Bianco D'Alba, que chegou à sua 83ª edição em 2013. O mercado funciona sempre aos sábados e domingos, de 9 às 20 horas, com entrada paga (€ 2), localizado no Cortille della Madalena, complexo que abriga a igreja de igual nome e o Museo Cívico F. Eusébio. O ingresso para o mercado dava livre acesso ao museu. Em 2013, o período da feira foi entre 12 de outubro e 17 de novembro. Nossa visita se deu no dia 27 de outubro, domingo. O acesso ao pátio do complexo Madalena se dá pela principal rua do centro histórico de Alba, a Via Vittorio Emanuele. A falta de organização já é sentida antes mesmo de entrar. Não há filas nos guichês da bilheteria, mas sim aglomerados de pessoas. Senti-me na China. E onde não há fila organizada, vale a lei do mais forte. Para quem gosta de criticar o Brasil, esta viagem à Itália me mostrou que as pessoas precisam ter mais conhecimento de causa antes de detonar as coisas no nosso país, dizendo que a desorganização é característica do brasileiro. Para conseguir acesso a um dos guichês, fiquei prendendo com o corpo quem tentava furar fila, enquanto Vera, Cláudia, Emi e Rogério tentavam comprar a entrada. Um cartaz indicava que por mais € 8, tínhamos direito a uma degustação. Nada indicava que tal degustação era limitada qualitativa e quantitativamente. Se fosse no Brasil, o Código do Consumidor "gritaria". Resolvemos comprar o ingresso de € 10. Assim que passamos pelo controle de entrada, tivemos que ir a um balcão localizado à direita, onde entregavam uma taça de vidro com um porta-taça bem feio, feito de tactel. Este porta-taça podia ser pendurado no pescoço. A taça não tinha nenhum logo ou escrito que a identificasse como sendo da feira. Com as taças nas mãos, partimos para conhecer os expositores. O local é pequeno, com pé direito alto, mas como é uma grande tenda de lona, e por ser "winter time", o calor que fazia lá dentro era insuportável. Tiramos os casacos rapidamente. Estava muito cheio. As pessoas não pediam licença para passar. Simplesmente atropelavam quem estivesse na frente. Para complicar ainda mais, casais empurravam carrinhos de bebês com crianças enormes lá dentro. Nunca vi tanta preguiça de levar uma criança segurando-a pelas mãos.Isto ocorre em todos os cantos da Europa. Enquanto podem, os pais levam carrinhos de bebês. E pior ainda, eram os cães de todos os tamanhos e raças que seus donos insistem em levar para estes locais públicos fechados. Era um festival de menino gritando, chorando e cães latindo. Como a ideia era comprar uma trufa branca para a Confraria VinusVivus, saímos pesquisando preços, sentindo os aromas, vendo tamanhos e pesos. Depois de rodar por todas as barracas, algumas impossíveis de entrar, paramos no setor dos caçadores de trufas, que fica no meio, como a grande atração do mercado. Muito interessante ter visto as roupas a caráter que alguns usavam e que há uma transmissão de geração para geração da arte da caçada. Vi velhos e jovens nas barracas destas trufas frescas, recém caçadas. No entanto, preferimos comprar em barraca de empresa estabelecida no mercado de trufas, pois tinham embalagem adequada para o transporte até o Brasil, ou seja, vidro hermeticamente fechado e um macio guardanapo, quase uma gaze, para envolver a trufa. Na feira, há outros produtos da região sendo comercializados, como torrones, bolos, queijos, entre eles o robiola, biscoitos, balas, avelãs de todas as formas e processos, vinhos, embutidos, cosméticos feitos com leite de mula, trufas negras, chocolates, grappas, entre outros. No fundo da tenda ficava o balcão para a troca do tíquete que pagamos pelos vinhos. Lá, enquanto esperávamos uma eternidade para sermos atendidos, pois o empurra empurra era generalizado, li o que estava escrito em italiano no tal tíquete. A degustação se limitava a duas taças e somente dos vinhos dolcetto ou barbera. Barolos e barbarescos estavam fora desta degustação. Conseguimos pegar duas taças. Vera desistiu e saiu para ver como fazia para comprar algo para comer. O mesmo caixa que vendia os tíquetes de comida, também vendia para taças de vinho. Ali, um barolo ou um barbaresco saíam por € 4 a taça. Ou seja, pagamos o mesmo valor para beber vinhos mais simples. Por tais vinhos, havia taças vendidas a € 3. Mais um ponto negativo para a feira. Na hora de pegar a taça do barolo, uma lista nos foi entregue para escolhermos qual rótulo queríamos, mas logo o senhor foi avisando que o Gaja estava fora, pois só vendiam a garrafa. Escolhemos um Pio Cesare. Conseguimos uma mesa alta para apoiar as taças, bebemos nosso vinho, largamos as taças por lá e voltamos para as barracas. Era hora de comprar. Cada um foi para um canto, pois as "necessidades" eram diferentes. Eu comprei dois tabletes de torrone, um pacote de torrone aos pedaços, um saco de avelãs confitadas com açúcar, um vidro de pasta trufada e dois vidros de manteiga trufada. Ali mesmo começou meu estresse se eu conseguiria entrar no Brasil com estas manteigas, fato que me acompanhou até passar pela alfândega em Guarulhos, onde não fui parado. Com as compras feitas, saímos logo da feira. Para se alcançar a rua, o trajeto da saída impunha uma passagem obrigatória em uma espécie de ateliê coletivo de artistas plásticos e ceramistas da região. Oportunidade para conhecer as técnicas, ver estas pessoas trabalhando e comprar os seus produtos. Passamos sem parar. Lá fora, colocamos os casacos e cachecóis, pois o frio era de 12º C. Ainda tínhamos mais uma loja para ir. Queríamos comprar mais vinhos.
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