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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

TARDE DE CAÇA ÀS TRUFAS BRANCAS

Sábado, 26/10/2013, 14:30 horas. Era chegado o momento do grande motivo para estarmos no Piemonte: participar de uma caça às trufas brancas. Para tanto, contratamos o serviço com antecedência junto à Tasting Tours, mesma empresa que nos levou para conhecer duas vinícolas no dia anterior. O ponto de encontro foi o Hotel Calissano, onde Vera e Cláudia estavam hospedadas. O nosso guia, Sandro, foi pontual, bem como o motorista com a van que nos levaria até La Casa del Trifulau (www.lacasadeltrifulau.it), local de partida para a tão esperada caçada. A distância entre Alba e Costigliole d'Asti, uma fração da cidade de Asti, onde fica o bosque em que iríamos caçar, é em torno de vinte quilômetros, percurso que fizemos em meia hora. Previamente fomos alertados para duas coisas: a possibilidade de nada encontrarmos na caçada e as eventuais trufas encontradas eram do caçador, jamais nossas. Chegamos ao destino às 15 horas, uma casa branca na encosta de uma colina, de onde se tem uma linda vista dos vinhedos da região. A casa fica na estrada, logo após uma curva, motivo para se ficar atento ao tráfego de carros. O endereço é Strada Canelli, 1. Descemos a escada, chegando a um amplo quintal, onde há uma estrutura para receber turistas. Fomos apresentados ao dono da casa e a um grupo de ingleses que também participaria da caçada. Ao redor de uma mesa de madeira enorme recebemos as boas vindas, ouvimos um pouco da história das tradições locais, especialmente dos produtos da região, a maioria deles oriundos da atividade agrícola, como o cultivo de uvas, os queijos frescos e os embutidos, além da principal atração local, a trufa branca (tartufo bianco). O dono da casa nos mostrou ilustrações da trufa branca e das árvores com as quais elas fazem uma espécie de simbiose para viver. As mesmas árvores que encontraríamos no bosque do outro lado da estrada onde fica a casa. Aprendemos um pouco mais sobre as trufas. As trufas negras são encontradas em qualquer parte do mundo, motivo pelo qual seu preço é bem mais em conta, chegando a custar dez vezes menos do que as brancas. Já a espécie branca somente é encontrada na Itália (Piemonte, Toscana e um pouco na fronteira com a Eslováquia) no período de setembro a janeiro, com o ápice acontecendo entre meados de outubro e meados de novembro. Ou seja, estávamos no local certo, no tempo certo. Um grama de uma trufa branca chega a custar nos restaurantes mais refinados da região até € 7. Assim que retirada da terra, a trufa não resiste muito, devendo ser consumido em até uma semana. Quanto mais fresca, maior o aroma de alho que ela exala. Após estas explicações, era a vez de conhecermos o caçador que nos levaria ao bosque juntamente com os seus cães farejadores. Giorgio era o caçador. Ele nos levou até o canil, apresentando primeiro um pastor alemão, que não era um farejador, mas sim o protetor e guardião dos outros três cães do local, estes sim os verdadeiros cães farejadores de trufas. Na região, todo caçador de trufas, chamados de trifulau (um dialeto local que vem de trifula, como eles chamam a trufa), devem possuir um registro. Com tal registro, eles podem caçar em qualquer área da região, não importando se o terreno é público ou privado. O caçador é o dono da trufa que encontra, não devendo nada ao dono da propriedade. Por causa disto e pelo preço alto desta iguaria culinária, há muitos caçadores e casos de assassinatos de cães não são raros, motivo pelo qual os três farejadores da La Casa del Trifulau tinham um cão guardião. Giorgio nos apresentou seus cães, da raça pointer inglês. Duas fêmeas e um macho. Diana, a mais velha, com sete anos, é mãe de Esferina e de Brio, ambos com três anos de idade. Todos três são muito dóceis e não estranharam a gente. Os ingleses não enturmavam, ficando distantes, só observando, enquanto nós chegamos perto dos cães, acariciando a cabeça deles e até dando comida para Diana. Giorgio escolheu Diana e Brio para a caçada daquela tarde. Antes de deixarmos a casa, ele aconselhou a quem estivesse com sapatos inapropriados a calçar uma das botas de borracha que havia no quintal. Emi e Vera calçaram as botas. Na subida, outro conselho do caçador: pegar um bastão de madeira para ajudar na caminhada no bosque. Peguei um dos bastões. Os dois cães estavam amarrados na mesma corrente e estavam doidos para entrar no meio das árvores. Foi só atravessar a estrada que Giorgio os soltou. Seguimos a trilha morro acima. O bosque é formado por uma árvore conhecida como pioppo, a melhor para encontrar trufas brancas. Paramos em uma pequena clareira, onde Giorgio nos explicou mais um pouco sobre o processo de caça. Os cães não podem seguir em linha reta, pois a direção do vento altera a todo instante no bosque e é pelo vento que chega ao apurado olfato deles o aroma das trufas. Com palavras de ordem, Giorgio instigava Diana e Brio a subir e a descer o morro, até que Diana parou, ficou em posição ereta, mirando um lugar distante, com as narinas bem abertas. Era chegado o momento. Ela correu até uma árvore, com o caçador atrás, e começou a cavar. Ele falava rápido algumas palavras para a cadela. Um aroma de alho dominou o ambiente. Diana tinha achado uma trufa branca. O caçador não deixou o cão ir até o fim. Ele o afastou, jogando ração para o lado e terminou de cavar. Achei estranho que a trufa encontrada não tinha nenhum sinal de raiz, já que na explicação ouvida minutos antes, aprendi que a raiz de uma trufa se entrelaça com a raiz da árvore. Fiquei desconfiado que se tratava de uma farsa, algo para enganar turista. Seguimos em frente, subindo o morro. Estava achando chatérrima aquela sinergia com a natureza. Mais à frente, Diana e Brio começaram a cavar juntos, o que chamou a atenção de Giorgio. O forte cheiro de alho foi bem diferente do primeiro. O caçador afastou os cães, mantendo um sorriso de satisfação no rosto. Ele acabou de desenterrar, e, desta vez, até o barulho de raiz se soltando da terra eu ouvi. Quando peguei esta segunda trufa, vi que tinha pedacinhos de raiz arrancados. Agora sim, era real a caçada. Dei-me por satisfeito naquela aventura na natureza, mas ainda subimos mais um pouco e os cães encontraram mais uma, bem menor, mais igualmente aromática. Era o fim de nosso passeio no bosque. Voltamos para a casa, onde o dono tinha preparado uma mesa com produtos da região: o vinho tinto Matota d'Asti Barbera 2012, do produtor Baldi Pierfranco, salaminho, fatias de queijo robiola (feito com 50% de leite de cabra e 50% de leite de vaca), e lascas de trufas brancas, colhidas em outro dia, raladas na hora por sobre o queijo. Durante este lanche, o dono da casa nos deu uma aula de como fazer um ovo frito com a trufa branca. E ainda fez propaganda de um livro que ele tinha lançado sobre a arte de caçar trufas, à venda no local. Ninguém comprou nada, nem trufas, nem livro. Voltamos para o carro. No trajeto de volta, paramos uma vez para tirar fotos de mais vinhedos e castelos. Chegamos em Alba perto de 18 horas. Tinha gostado da experiência, mas não repetiria.

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